Um caso alarmante de invasão de privacidade reacendeu o debate sobre o uso ético de tecnologias vestíveis. Um homem foi preso nesta semana após ser flagrado utilizando óculos inteligentes Ray-Ban Meta para filmar, de forma clandestina, centenas de mulheres em locais públicos e privados, sem o consentimento delas.
Segundo informações da polícia, o acusado, que não teve a identidade divulgada, usava o dispositivo — equipado com câmera embutida e conectividade com redes sociais — para registrar imagens e vídeos de mulheres em situações corriqueiras: no transporte público, em academias, praças, shoppings e até dentro de estabelecimentos comerciais. O conteúdo era armazenado em nuvem e parte dele supostamente compartilhado em fóruns privados da internet.

A investigação teve início após denúncias de duas mulheres que desconfiaram do comportamento estranho do homem, que mantinha os óculos sempre voltados na direção delas e fazia movimentos suspeitos com a cabeça. Após monitoramento e abordagem, a polícia descobriu no aparelho registros de mais de 600 mulheres filmadas sem autorização.
A tecnologia dos óculos Ray-Ban Meta permite capturar fotos e vídeos com apenas um toque na haste ou comandos de voz, o que dificulta que terceiros percebam que estão sendo gravados. A praticidade e o design discreto da peça tornam o uso quase imperceptível — um recurso pensado para conveniência, mas que pode ser facilmente desviado para fins ilegais.
Além da prisão, o homem será investigado por violação de privacidade, assédio e possível compartilhamento de conteúdo íntimo sem autorização, podendo responder por múltiplos crimes previstos no Código Penal e na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).
A Meta, empresa responsável pela tecnologia dos óculos em parceria com a Ray-Ban, afirmou em nota que repudia qualquer uso indevido dos dispositivos e reforçou que os óculos possuem uma luz indicadora de gravação. No entanto, especialistas apontam que o aviso é pequeno e pode passar despercebido, o que torna a situação ainda mais delicada.
Organizações de defesa dos direitos das mulheres e da privacidade digital aproveitaram o caso para cobrar regulamentações mais rígidas sobre o uso de tecnologias vestíveis com câmera, além de campanhas educativas para que as pessoas compreendam os riscos de exposição e saibam identificar sinais de possível violação.
O caso serve como alerta: à medida que a tecnologia se torna mais integrada ao nosso cotidiano, os limites entre conveniência e privacidade precisam ser cuidadosamente discutidos — e respeitados.